quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Texto "PUTA"

Postado por Raissa

"Quem de nós já não se vendeu de uma ou outra forma? Quem pode dizer que nunca mendigou por amor? Por um pouco de atenção? Quantos casamentos não são mantidos para pagar as contas? Todos carregamos dentro, uma puta, e a prostituição só vai terminar quando olharmos para ela sem máscaras, sem pudor, e com todo o amor..."

PUTA

"Gosto da nudez mística e decadente da palavra puta.
Gosto da fonética e da semântica.
Gosto das putas sem aspas que com quatro letrinhas apenas escrevem antologias e tratados no lençol manchado de um quarto de hotel manhoso.
Gosto da nobreza das putas que, como um bom mestre de koans, condensam a condição humana num mantra económico; "São dez euros a mamada"
Gosto da frontalidade profissional com que as putas vendem em saldos de feira um broche de porcelana barata.
Gosto do temor freudiano com que o vocábulo se vem na nossa consciência, "Ai podem-me chamar tudo, paneleiro, cabrão, merdoso, agora Filho da Puta é que não".
Não gosto da maneira reles e rafeira como me vendo sob a capa aristocrática de um cidadão esclarecido.
Não gosto de ser sodomizado quando me vendo como peça de mercearia nos outlets e supermercados a preço de ocasião.
Não gosto dos broches mal feitos quando tenho de engolir até ao fim o esperma agridoce de um pivot de televisão.
Não gosto de abrir as pernas quando sangro em ferida e um estadista de púlpito feito me diz que "está quase todo lá dentro".
Não gosto de ser uma "puta".
Com aspas em vez de peito generoso. E sofrível nos seus falsos gemidos de prazer."

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